Na história das grandes marcas provavelmente também encontraremos alguns grandes vacilos e aquela velha máxima, “não se mexe em time que está ganhando”, sob vários pontos de vista, pode ser cuidadosamente questionada. Nesse turbilhão chamado mercado, que já fez muito gigante ficar de joelhos, podemos especular mil coisas. Mas algumas são bastante factíveis de se supor…
Pra ilustrar um desses “deslizes” corporativos peguemos como exemplo a Gibson, a maior concorrente da Fender na fabricação das melhores guitarras do mundo. Há décadas e mais décadas, a Gibson afinou os maiores riffs do rock, do blues, do jazz e do pop com os mais fantásticos guitarristas de todos esses estilos. De BB King a Jimmi Page, de Keith Richards a The Edge, se ouviu Gibson por todos os lados e por todos os poros…
Além de excelentes, e numa comparação direta com a Fender, guitarras Gibson sempre custaram bem mais caras. Ainda assim vendiam como água, afinal nunca faltaram qualidade e sonho de consumo a esses instrumentos.
Então, porque, recentemente, a Gibson quase ficou muda? O que teria causado a pane que colocou em risco tamanha reputação? Porque a marca quase desafinou geral?
A primeira resposta vem do enunciado desse texto: a Gibson resolveu mexer no timaço que estava ganhando, inventou moda e entrou numa de fabricar sistemas de áudio para o público em geral.
Isso mesmo, a Gibson achou que a magia do som que saia de uma Les Paul poderia, de alguma forma (vai saber qual?) sair também de caixinhas para home-theater doméstico, digamos assim.
Deu ruim, a diversificação desviou a atenção e a tentativa de abraçar outras causas por pouco não derrubou a gigante…
Outros fatores, além da bizarra tentativa de se lançar no mercado de áudio popular, certamente contribuíram para o “arranhão” da Gibson. Os preços altíssimos, por melhores que sejam suas guitarras, realmente não combinam nada com a situação econômica do mundo.
Sobretudo com a situação econômica de muitos músicos, quase sempre mais apertados do que o próprio mundo. Podemos, inclusive, especular sobre a comunicação meio desafinada demais junto a seu público-alvo.
Pelo que me recordo, e ao contrário da orgânica comunicação da Fender, os apelos da marca mais distanciavam do que aproximavam seus potenciais novos clientes.
Assim, praticando altíssimos preços, tropeçando na comunicação, misturando produtos alienígenas às guitarras e se afastando indiretamente do seu consumidor a Gibson por muito pouco não se desplugou do mercado…
Por mais esquisita que pareça essa história, por mais sem nexo que ela seja, não se trata de algo incomum. Muitas marcas, por ganância desenfreada ou passos impensados, vira e mexe destroem sua trajetória num piscar de olhos.
Marcas são patrimônios, e isso é mais do que óbvio. Marcas dependem, claro, de competitividade, fidelização e identificação fortes. Marcas como a Gibson têm no design algo ainda mais poderoso do que a própria marca no headstock.
É um design clássico que foge radicalmente do propósito de sua existência pode ser receita certa para o fracasso…então, cuidado!
Fico pensando como será uma Harley Davidson elétrica, ?Mas isso é assunto para um próximo artigo.
Por sorte, e no caso da famosa marca de guitarras, a situação rapidamente se reverteu. Agora a Gibson voltou para o seu quadrado, mandando ver na fabricação única e exclusiva das guitarras. Ainda bem, para o seu e nosso próprio bem!
Mayer Lana
Designer e Diretor de criação da Agência Mosca